23 maio, 2014

Fresno - Eu Sou a Maré Viva (2014)


Nota: 6,2




Matheus Donay




“Você pode dizer que já ficou para trás / Pode até esquecer, dizer que não importa mais / Mas teu passado se lembra / O teu passado não esquece.”

A primeira estrofe da primeira música do EP sintetiza minha relação com a Fresno atualmente. Não costumo dizer que tenho banda favorita, porque isso muda com o tempo. Costumo dizer que tem a banda que eu mais escuto. E Fresno foi, por pelo menos 3 anos a banda que eu mais ouvi. É difícil falar do novo EP, e mais do que isso, inevitável não comparar com discos anteriores. Sempre gostei da Fresno por causa do intimismo e identificação com as composições. Continuo a gostar da banda, mas acabei dividindo o espaço dela com outras músicas de outros artistas.

Traçando um paralelo entre o “Eu Sou a Maré Viva” e outros trabalhos, começamos  falando das letras. A banda que sempre foi rotulada de emo pela carga emocional das músicas e pelos desastres e desilusões amorosas deu lugar à frases de efeito, ora motivacionais e inspiradoras. Suponho que Lucas Silveira, o compositor, agora namorando, deve ter deixado o seu eu-lírico um pouco mais sossegado com as crises de relacionamento.

A essência do EP gira em torno de se firmar em um mundo que se apresenta muitas vezes como cruel. “O meu pensamento é à prova de balas / à prova de fogo / E isso ninguém vai tirar de mim” e “Quem é que vai ouvir a minha oração? / E quantos vão morrer até o final dessa canção? / E quem vai prosseguir com a minha procissão / Sem nunca desistir ou sucumbir a toda essa pressão?”. Exemplo de trechos que marcam o grande drama da vida, tão explorado no disco.

Para os saudosistas, a canção ‘Eu Sou a Maré Viva’ tem um pouco da cara da Fresno de alguns anos atrás.  Para mim, é a mais bonita do disco que está recheado de frases fortes. A parceria com Emicida e Lenine, ‘Manifesto’, ainda que cause estranhamento quanto ao som típico da Fresno, me surpreendeu positivamente.  “Nem ser menos e nem ser mais / Ser parte da natureza, certo? / Ao caminhar na contramão disso / a gente caminha Pra nossa própria destruição.”

E assim se fez o EP. Com sonoridades não tão comerciais como antigamente, a banda segue independente. Mesmo que tenha se afastado das sonoridades clássicas que marcaram época na Fresno, as novas músicas seguem sendo entoadas pelo público fiel da banda. Ouça o disco. Se não gostar, tente sair ao menos inspirado com os manifestos e legados espalhados nele ou com o projeto gráfico, que diga-se de passagem, ficou ótimo. 


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