27 julho, 2014

Ronnie Von - Ronnie Von (1969)

Nota: 8,3






Eduardo Kapp






Normalmente quando se diz por aí que se gosta de Ronnie Von, todo mundo te lembra o quanto "cara, minha vó ouvia isso, como assim." E essas pessoas, de certa forma, estão certas. Mas calma aí, não precisa passar pra próxima review, o ponto é que, o cantor bonito e famoso e brega e tudo mais teve uma breve fase experimental, torcendo e revirando seus próprios conceitos de música (e sua gravadora, mas isso é outra história).

Depois de "sucessos" como "A Praça" e "A Catedral", advindos de um dos álbuns mais bregas de todos os tempos (o primeiro auto-intitulado), Ronnie Von era um ser muito bem conhecido na Jovem Guarda. Vendia bastante, tocava na novela e ia pro rádio pra tocar mais uma vez. Por razões ainda desconhecidas, este álbum que é mais um de seus auto-intitulados, lançado em 1969, muda tudo que sabíamos sobre Ronnie Von.

Dessa vez com órgãos elétricos distorcidos, enormes orquestras, distorções em suas antes inocentes guitarras, esse disco é uma revolução (para Ronnie Von). Quero dizer que, as clássicas características brasileiras da época estão todas lá, mas ainda assim, não se pode dizer que era só mais um disco "tropicalista", pois estava fora disso, estava em seu próprio mundo.

Aqui Ronnie Von fala sobre seu "Novo Cantar", referencia o futebol e até cria falsos anúncios pra mostrar o quanto está feliz em dizer que não é mais brega. E o que realmente chama atenção é sua forma de misturar a influência do rock sessentista internacional (que estava obviamente em alta) com progressões de acordes lá do século 18 (18 sim, que saco usar números romanos). Nesse ponto, o primeiro nome que vem a mente é a estranha e muito bem cuidada "Espelhos Quebrados", que fala sobre sapatos e incenso nacionais. Sem falar da temática das cadeiras. Muito boa mesmo.

De quebra, o disco conta com uma revolução dentro dele mesmo. Uma música muito mais doida que todas as outras juntas: "Mil Novecentos e Além", que parece ser só mais uma música qualquer, até a psicodelia sem drogas de Ronnie te acertar uma pancada no ouvido direito com algo que ele mesmo criou, uma técnica que consistia em aparentemente, bater nas cordas de um piano com uma baqueta daquelas que se usa em bumbos. Bizarro. E ainda mais bizarro quando de forma completamente aleatória, vem uma voz dizendo: "Varte, traz as porpeta" (?).

Chegamos ao ponto da psicodelia sem o uso de drogas. Se é mito ou não, é o que dizem sobre Ronnie. E isso talvez explique o porquê de que em algumas músicas algumas linhas parecem bem... forçadas. Não são muitos, mas existem alguns momentos desse tipo, em que bom, Ronnie podia ter ficado quieto. Também não deram certo algumas misturas de linhas Mutânticas com algumas "memórias" da fase brega, tipo em "Canto de Despedida". Trash.

Psicodélico, triste, feliz, bizarro e por vezes muito divertido, esse álbum foi resgatado da poeira pelo fim dos anos 90, quando colecionadores, principalmente na Europa, começaram a valorizar muito estes discos da fase experimental de Ronnie. Assim, o interesse foi renovado, e os álbuns até voltaram a ser produzidos. Hoje em dia mesmo, dá pra encontrar em qualquer livraria. E vale muito a pena, é um grande momento da música brasileira.



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