31 agosto, 2014

MGMT - MGMT (2013)

Nota: 8,8






Eduardo Kapp






Ok. Pra começar a falar desse disco, é inevitável a necessidade de lembrar dos discos anteriores, Congratulations e Oracular Spectacular. Digo, quando tu vê aquela pessoa meio aleatória da vida que curte a página do MGMT no facebook, será que ela gosta de "Someone's Missing" ou de "Time to Pretend"? Não que uma seja absurdamente superior a outra ou qualquer coisa assim, mas o apelo pop da maioria das músicas do Oracular é indiscutível. É lá que estão as músicas mais conhecidas e essa ideia de que MGMT é puramente ~música de festa~ e etc etc.

E, bom, em várias entrevistas, tanto o Andrew quanto o Ben dizem que o tal do primeiro álbum (e o primeiro EP também) foi uma grande "piada". Simplesmente pela ~zuera~ de forçar melodias e progressões pop. É claro que tem muito do estilo real deles ali, não tem como fazer algo relativamente sério ser 100% uma piada (Frank Zappa não concorda). Mas a piada não durou muito, com o lançamento do "Congratulations", um disco excepcional, com muita experimentação e aproximação pop na medida certa, onde eles não estavam mais "fingindo" e sim mostrando todas as suas reais influências. Uma vez "libertos" e fazendo música "séria", o mais novo álbum "MGMT" foi uma consequência natural.

Foi como se separassem cada sessão de "Siberian Breaks" pra fazer um novo disco. Foi como se resgatassem um pouco do humor do Oracular, pra dizer pra todo mundo que sua vida é uma mentira, até dando esperança que o álbum seria pop de novo, como o primeiro single foi. Foi como se a banda tivesse voltado pro cenário do clipe de "Electric Feel" e realmente vivido a experiência da ida pra lua numa motocicleta. Foi como se alguém misturasse todo o conceito de explorar uma densa floresta tropical com a ideia de ir pra outros planetas. Foi como se o Faine Jade tivesse rejuvenescido e assumido o lugar do Andrew na banda, fazendo um cover de si mesmo em "Introspection" (é bizarro eles realmente cantam parecido).

Aqui os synths aparecem mais que as guitarras, sem falar de sons estranhos em forma de sample. Barulhos que lembram a fase das trilhas sonoras que o Pink Floyd fazia. As baterias assustadoras de "Mistery Disease". As flautas e sei lá, "sons" de "I love you too, Death" (que nome bizarro), seguidas pelo ritmo hipnotizante que segue da metade da música em diante, enquanto Andrew sussurra coisas como "But in the red dirt muddy towns // Celebration of the dark". 

Experimentação sem nenhum limite, com músicas bastante confusas fazendo sentido de alguma maneira inexplicável. "Good Sadness" e "Astro-Mancy" não são fáceis pra qualquer um "digerir" em pouco tempo. Essa confusão toda dá uma ideia de que esse é um álbum de transição. Afinal, tem vários elementos do Congratulations, até alguns do Oracular, mas com muita coisa nova, embriônica. Dá até pra ver essa transição da metade do disco ("Your life is a lie") em diante: inclusive voltando ao conceito de quebra de expectativa que o single propõe.

Confuso ou não, é um disco muito mais elaborado que qualquer um dos anteriores. Muito mais ambicioso e inovador. É como se só agora o MGMT estivesse se "descobrindo", sem compromissos com vendas ou algo que o valha. Vanguarda. Abrindo caminho. Preparando o terreno pro próximo disco, que se tudo sair como o esperado, pode ser o melhor até então.



28 agosto, 2014

Jupiter Apple - Hisscivilization (2002)







Matheus Donay






Hisscivilization. Assim é chamado o terceiro álbum solo do Flávio Basso, o segundo assinado com o nome Jupiter Apple. Digamos que seja quase que uma doença compulsiva lembrar da Sétima Efervescência (álbum que já publicamos aqui) quando o assunto é Júpiter, mas você vai ter de lidar com a ideia de que a odisseia no espaço continuou, porém para outros planetas, outras vanguardas, outras vidas.

O antecessor Plastic Soda era um choque. Pular de um álbum revival psicodélico consagrado para um álbum de bossa-nova não é, nem de longe, o que se esperava dele. Mas ele fez. Já com sua vitalidade um pouco longe do ápice, lançou e acabou, naturalmente, com uma evasão da cena que tinha construído. Isso é ruim? Claro que não. O eu-artista Jupiter Apple produzia muito mais na sua nova fase tropical. Contraditório, né? A fase praiana é cantada em inglês.

Voltando ao Hisscivilization, o álbum aparenta ser algum primo de segundo grau dos seus trabalhos anteriores. Ouso dizer que é mais psicodélico que a Sétima Efervescência, além de não abandonar as bossinhas plásticas do álbum anterior. É um disco absurdamente experimental, com exploração de recursos sonoros muito vanguardistas. Algo entre futurismo e surrealismo. Uma espécie de Audouls Huxley tomando toda a solução.

Jupiter deixa sua voz em segundo plano, nas entrelinhas dos barulhos entorpecentes. As sonoridades eletrônicas soam como se fossem uma quebra de valores, um movimento anárquico, uma viagem e tanto ao futuro. Com certeza a preocupação do álbum não girava em torno de ganhar dinheiro, tocar em rádios, sair em turnê. Talvez por isso a estética artística tenha saído tão singular em cada detalhe.

Hisscivilization tem um porém: músicas que duram muito tempo, o que pode ser algo que lhe entendie caso não esteja disposto a experimentações musicais. O álbum todo dura mais de uma hora. Não é aquele disco que você vai tocar no violão ou vai botar para reproduzir no churrasco com os amigos.

As recomendações ficam pelas faixas "Tropical", "Overture and something else" e "Pyeus Malus et Fragaria Vesca" como as mais brasileiras do cd. Para as viagens futurísticas: "The Cat and Rabbit", "Exactly" e "The Homeless and Jet Boots Boy". Também tem as agradáveis "Act Not Surprised" e "The Futuristica Waltz", algo que lembra de certa forma a Canção pra Dormir, do seu primeiro disco.

De fato, é um álbum para quem gosta da arte por si só. E nesse quesito Jupiter se reinventa cotidianamente e acerta em cheio - paralelamente terminava seu curta "Apartment Jazz", quase que uma ilustração do seu disco. Muito longe de ser um álbum ruim, ainda assim requer muita paciência de quem o ouve. Pode ser uma boa para quem procura algo diferente. Bota os fones e dá uma chance.

Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=4YB02E9JCXg

27 agosto, 2014

Temples - Sun Structures (2014)

Nota: 5,5







Eduardo Kapp





Temples é aquela banda que era, de certa forma,  conhecida pelo single "Shelter Song" que já existia desde 2012. Essa música tinha quase todos os elementos sessentistas possíveis: as guitarras Rickenbacker num estilo Jangle-Pop, sintetizadores, a bateria característica do psico-pop e isso sem falar dos vocais. Se isso é bom? Não vejo porque seria ruim. Isso gerou uma promessa entorno da banda, de que quando lançasse o álbum seria algo absurdamente anos 60 só que: novo.

Tem essa coisa entre os revivalistas. Existem aqueles que são muito bons quando se trata de realmente reviver os sons da famosa década mas não trazem nada de novo, e existem aqueles que usam esse revival mais como inspiração do que como objetivo. Ou seja, não é que todo revivalista seja ruim (longe disso, ainda mais na cena atual, onde tem gente revivendo tudo), mas muitos deles não trazem nada de novo e acabam sendo desnecessários ou até entediantes, se o ouvinte pode simplesmente ouvir as bandas que os inspiraram, ao invés deles.

Eis que em fevereiro desse ano é lançado (finalmente) o Sun Structures, primeiro álbum da banda. Demorei alguns dias pra ouvir ele, com medo de me decepcionar com todo o hype que assombrava o disco. Foi em vão.

Afinal, será que eles só conhecem esse mesmo estilo de ritmo? Esse mesmo timbre o tempo inteiro? É algo interessante nas primeiras 3 músicas, só que depois tu percebe que é só isso mesmo. Digo, não é como se soasse ruim, mas não tem nada de mais, é só uma cópia fiel ao The Byrds, ou ao Electric Prunes. E é dum jeito tão escancarado. Parece que tem muita coisa que saiu errado ou faltou esforço por aqui.

Até a tracklist ficou ruim. Todo mundo sabe que a faixa-título não era a certa pra vir depois do single (que foi a primeira faixa, talvez também imitando como era nos anos 60). As músicas são bem simples, numa aposta bem pop, e quando ficam mais elaboradas parecem confusas, parece que falta algo. Os melhores momentos do álbum são, basicamente, quando eles esquecem um pouco a coisa sessentista toda e produzem algo mais original (mesmo que medíocre), ou nas músicas em que os instrumentos parecem coexistir, respirar melhor. Nesse sentido, "Colours to Life", "Fragment's Light" e a catchy "Mesmerize" dão conta de chamar a atenção.

De qualquer forma, não dá pra falar mal da sonoridade por si só, que ficou muito bem produzida. Tem alguns momentos em que dá pra curtir bastante os sons vintage aqui colocados. O problema é que, não tem nada de novo. E ah, parem de dizer que essa banda é parecida com Tame Impala, isso é um desaforo pros caras que realmente inovam (hue).

22 agosto, 2014

Yo La Tengo - Painful (1993)

Nota: 9,2





Eduardo Kapp






Provavelmente você já ouviu falar de um Yo La Tengo versão 00's, com lançamentos como "Popular Songs" (2009) ou "Fade" (2013). E putz, é algo bem diferente do que eles costumavam ser lá pelos ~anos 90~. Se isso é bom? Eu diria que não. YLT viveu seus melhores momentos naquela década. Desde um talvez tímido começo, se apoiando em um som leve, simples, "rock" e não muito ambicioso/consistente, de repente rolou um enorme divisor de águas, marcando uma fase de muita dinâmica na banda e um som que incorporava elementos de movimentos contemporâneos e ainda assim era inovador. Estamos falando desse álbum que tá com o nome ali em cima mesmo, Painful.

Eu sei, eu sei, parece não fazer nenhum sentido. O que foi que eles usaram que fez com que o som mudasse disso pra isso? Será que foi a influência do MBV ~mastermind~ Kevin Shields? Ou foi a Souvlaki Space Station? É provável, mas realmente não dá pra dizer. Por quê? O som aqui não se limita as ~regras~ dos clássicos álbuns shoegaze lançados nos 3-5 anos anteriores. Isso porque embora muitos elementos (reverb, muita distorção, menos enfoque nos vocais, delay etc etc) sejam incorporados, bastante coisa da fase anterior da banda foi levada em conta. E o resultado foi incrível.

São vários momentos. Muitos momentos. Começando com a primeira "Big Day Coming" (tem duas no álbum), até dá a impressão de que já dá pra se adivinhar a atmosfera geral do disco, ouvindo um feedback no fundo e um crescendo do piano. Mas tudo isso se esvai quando entra "From a Motel 6" em cena. Enormes distorções e etéreos vocais. A dose se repete em "Double dare", e quando você perceber que está imerso, será tarde demais. Talvez nem perceba a mudança de ritmo em "Superstar-Watcher", que é um atmosférico instrumental, com algumas vozes de fundo, aumentando ainda mais o efeito alienante.

O uso de organs já era bem conhecido no trabalho da banda, e aqui tem uma música que foca muito nesse instrumento. Óbviamente, estamos falando da muito bem trabalhada "Sudden Organ", que mistura toda a vibe que tinha sido construída até ali com uma noise jam, batidas pulsantes ecoando pelos dois lados e um monte de feedback acontecendo ao mesmo tempo. Intenso. O que era algo meio inexplorado antes foi até abusado por essas novas terras.

Mas a minha parte favorita com certeza é a segunda Big Day Coming, que é uma das canções mais memoráveis por aqui (tanto que o The Vines lembrou bem dela com "Sunshinin" lá em 2002). Tem todo esse tremolo nas guitarras, que depois de um acrescimo na intensidade, fica exatamente no ritmo da bateria. Uma música que, diferentemente de algumas outras no álbum, a letra não se trata só de meros problemas de relacionamento de uma pessoa nos seus 20 e alguma coisa, mas sim sobre um tal de um sentimento universal: a expectativa (pior coisa). Aquela cega, aquela sem explicação. Também apresentando as frenéticas noise jams, misturando pop com shoegaze, a confusão faz todo o sentido nessa faixa.

A questão é que, sempre achei esse álbum meio underrated. Na real, a própria banda é meio assim. Nunca teve o sucesso merecido, embora tivesse uma ótima aprovação da crítica. É difícil explicar. Difícil mesmo. Mas eu sei que tem alguma coisa de muito especial nesse disco. Um divisor de águas pra banda. Um abre-alas pra muita coisa que ainda estaria por vir. É claro, não é o melhor deles, mas com certeza um dos. E só digo isso porque de alguma forma, eles ainda conseguiram fazer coisa melhor depois disso (o que era inimaginável).

Onde ouvir: http://grooveshark.com/#!/album/Painful/185712



19 agosto, 2014

O Terno - O Terno (2014)

nota: 7,3






Matheus Donay





Esta é uma resenha sobre um disco de uma das bandas da nova geração do rock nacional. É de lá da terra dos Mutantes, do país dos baurets, também conhecida como São Paulo. Situando-nos: uma banda com o nome de O Terno, que lança seu primeiro disco com o nome de "66", não pode te deixar com outra expectativa a não ser uma banda de rock sessentista, inspirada nos grupos de maior sucesso da época. Exato. O primeiro álbum foi uma surpresa, pois impulsionou a banda que até então era de colégio a aparecer entre as boas novidades do underground, afinal não é todo mundo que lança um álbum 'retrô' e é bem recebido.

Nesse meio tempo entre o 66 e o novo álbum, foi lançada uma prova do que estava por vir: o compacto Tic Tac/Harmonium. Claro, além do cover de O Trem Azul aos moldes Tame Impala. As novas canções apresentadas já eram resultado da nova fase: as influências de 50 anos atrás tornaram-se em boa parte contemporâneas, numa escala do já citado Tame Impala a Mac deMarco. 

O Terno trás consigo uma novidade: um disco 100% autoral. O primeiro possuía a primeira metade própria e a segunda de regravações de músicas de Maurício Pereira, músico e pai do Tim Bernardes (vocalista e principal compositor). O que ficou de herança foram as letras irreverentes, de temas rotineiros, suavemente amorosos, adolescentes e por ora um pouco tristes. 

Musicalmente falando, o que pode ser considerado como um ponto fraco é a semelhança entre as canções, o que pode lhe deixar um pouco cansado ao ouvir de cabo a rabo. Algumas músicas se salvam, outras são figurinhas quase que repetidas. Músicas como "Cinza" e "Vanguarda" são exemplos disso, além de serem um resumo do disco: alternância de altos e baixos. Ápices eufóricos e momentos de calmaria. Esses momentos são decodificados em guitarras de batida leves e secas ou de distorções barulhentas, ilustração da manhã cinzenta paulistana.

Dentre as boas canções estão "Bote ao contrário", uma visita aos sintetizadores Jupiterianos ao melhor estilo do álbum "Uma tarde na fruteira". Lembram muito os sintetizadores do Astronauta Pinguim. Também destaca-se a música "Eu confesso" (divertida declaração às moças indie-hippies-retrô-brasileiras) e a balada "Eu vou ter saudades". O disco ainda tem a relação mutual com a participação do Tom Zé e Pedro Pelotas (tecladista da Cachorro Grande).

O Terno é um álbum jovem, com pegada e serenidade. Assim como o 66, não traz nada de novo, mas não pode ser considerado como algo pejorativo, uma vez que a banda sabe adaptar suas influências à sua maneira. Os próprios músicos sabem disso. Parafraseando um dos seus maiores sucessos: "me diz meu deus o que é que eu vou cantar / se até cantar sobre 'me diz meu deus o que que é que eu vou cantar' já foi cantado por alguém / e além do mais tudo que é novo hoje em dia falam mal?". 

Onde ouvir: http://www.oterno.com.br/

15 agosto, 2014

Pública - Como num filme sem um fim (2009)

nota: 7,7 






Matheus Donay





Você pode não conhecer a Pública mas provavelmente já ouviu Long-Plays, carro chefe do Polaris, o primeiro disco. A Pública é mais uma daquelas bandas puerto-alegrenses que a gente mostra aqui. Fugindo um pouco do estilo beat que marcou a sonoridade de bandas gaúchas, o som característico se assemelha a algo mais suave e limpo.

Como num filme sem um fim é um salto muito grande em relação ao primeiro disco. Produzido por Marcelo Fruet, o trabalho foi de extremo cuidado, a ponto de que o material das paredes das salas de gravação (seja tijolo, massa corrida, etc) desses novos rumos às canções. Efeitos naturais do ambiente.

Umas das grandes sacadas do disco foi a perfeita harmonia entre os teclados e as guitarras. Sempre leves, combinados e dançando um com o outro. Com umas teclas meio Stonizadas, meio Let it Bleed, há o complemento com instrumentos de cordas e sopros, o que torna o trabalho finíssimo, do modo em que foram explorados.

Neste filme sem fim da Pública, o catarse é recorrente. Cenas sentimentais e letras carregadas de valor emocional difundem-se em todos os campos. É um filme com cheio de saudades, de nostalgias familiares, de amigos, de momentos vividos. Músicas como "1996" e "Sessão da Tarde" retratam bem esse panorama.

Dentre as influências, podemos destacar as mesmas desde o seu primeiro álbum: um pouco de britpop, indie e rock alternativo, fugindo um pouco da regra do folk/rock sessentista da maioria das bandas gaúchas. Um exemplo evidente dessas raízes é a semelhança da música 1996 com Lovesong, do The Cure.

A banda participaria de um DVD do Internacional, junto com Carlinhos da Bidê ou Balde. Nesse tempo, foi criada a música "Casa Colorada". Por razões burocráticas, a participação acabou não acontecendo e assim surgia um dos destaques do disco: Casa Abandonada. Aí sim, com letras modificadas e um pouco mais de trabalho no instrumental, a música foi parar no VMB 2009 nos melhores clipes.

Mesmo sendo um disco de alternância de sentimentos, você pode ouvi-lo e ficar anestesiado, feliz e confortável com a melancolia sonora. É um retrato fiel daquela imagem símbolo do drama: uma máscara feliz ao lado de uma triste. Deveras, um filme agradável.

Onde ouvir: https://soundcloud.com/publica

13 agosto, 2014

The Shins - Port of Morrow (2012)

Nota: 7,4






Eduardo Kapp





Eu conheci o The Shins faz uns 3 anos, quando vi algo sobre um tributo ao Pink Floyd e eles iam tocar. Eles são uma banda com um estilo relativamente variado, indo desde o Dream Pop até o Freak Folk e Indie Rock. Os caras já tem uma relativa estrada, com 5 álbuns lançados desde 1997.

Nesse dito tributo, tocaram também MGMT, Foo Fighters, Pearl Jam e até o Dierks Bentley. Num tal de Late Night with Jimmy Fallon, o tributo durou uma semana, com vários shows e tudo. Enfim. Eles tocaram um cover de Breathe, que ficou muito afudê. Aí fui atrás do som dos caras, e acabei conhecendo o "Wincing The Night Away" que é um baita disco, lá de 2007. E aí uns meses depois, lançaram esse, o Port of Morrow.

Acabei ouvindo bastante, esse álbum me acompanhou em quase toda minha viagem de micro-intercâmbio ali pelas férias de inverno daquele ano. Difícil não sentir vontade de ouvir de novo e de novo depois de passar, por exemplo, pela eletrizante e espacial "The Rifle's Spiral", que é uma composição de 3:30, decentíssima, com alguns efeitos inesperados e mesmo assim sendo pop o suficiente pra ser lembrada.

Mas a coisa fica absurdamente pop e sei lá, invencível e grandiosa e essas coisas quando: "Simple Song". "Well this is just a simple song, to say what you've done" é quase uma mentira. Provavelmente a melhor música aqui, com um riff inesquecível, sintetizadores ecoando, timbres estranhos vindos de instrumentos que eu não saberia dizer quais são. Gostei muito da edição também, os volumes pra cada layer estão tipo muito.. certos.

A partir daí, rolam umas coisas mais calmas e nem tão ambiciosas, mas com seus igualmente bons momentos. Um ótimo exemplo é "Bait and Switch", que é bem tranquila e não tem nada de mais, quando de repente aparecem uns agudos inalcançáveis à um razoável ser humano, guitarras reinventando frases e uma bateria bem interessante, mesmo não sendo lá essas coisas.

O problema dessa parte do disco é que tem coisas como "September" e "No Way Down" que só tão ali pra cumprir tabela. Sinceramente. Não dá pra sentir nada ouvindo, nem acreditar que eles sentiram algo compondo/tocando. E tenho certeza que não estou sendo duro demais com músicas que uma bandinha estilo essas que tocam covers do Rock mainstream podia muito bem fazer.

Por sorte, a ~moral~ é recuperada em "For A Fool", "40 Mark Strasse" e principalmente na de mesmo nome do álbum, "Port of Morrow". Lembro que a primeira vez que ouvi essa música, não sabia dizer de onde vinha a inspiração pra ter feito algo assim, parecia completamente novo a maneira como se misturaram os instrumentos nesses 5 minutos e 50 segundos. É claro que depois eu ouvi coisas até parecidas, mas até hoje me parece que esse álbum como um todo tem momentos significativamente originais e muito bem trabalhados.

Onde ouvir: http://grooveshark.com/#!/album/Port+Of+Morrow/7426738

10 agosto, 2014

Tom Zé - Todos os Olhos (1973)

Nota: 8,0





Matheus Donay






Se você é daqueles que acha que a música brasileira não presta e que o MPB dá sono, esta é a hora para você perder seus preconceitos.

Após lançar 3 álbuns com o mesmo nome (todos Tom Zé) e ganhar prêmios como o do festival da Record em 1967 no meio da efervescência tropicalista, as mirabolantes ideias da cabeça inquieta de Antônio José resultam em mais um álbum: Todos os Olhos. 

Tom Zé, agitado como sempre e autointitulado como o "cantor da classe operária" sempre teve em seu DNA canções extremamente politizadas, mesmo que passassem despercebidas a todos os olhos. A ditadura militar vivia seu auge da repressão, e nem assim foi párea para o baiano. A censura era driblada até mesmo pela capa do disco. Sim, uma bola de gude em um ânus simulando um olho. Já nas subversão das canções, você encontra "Dodó e Zezé" (um diálogo entre dois personagens ironizando o papel midiático) e "Todos os Olhos", um retrato das torturas cometidas pelo regime.

Saindo um pouco da esfera contextual e agora musicalmente falando, Tom Zé explora novos recursos sonoros. Martelos, capacetes de operários e percussões inusitadas (referência até os dias de hoje para novas bandas brasileiras). Se comparado com os trabalhos anteriores, Todos os Olhos é um disco experimental. Apesar de as canções não serem inovações exageradas, o álbum causou um choque e fez com que Tom saísse dos grandes meios de circulação, o que contrariou as expectativas, pois na visão dele era um trabalho foguento e cheio de malandragem. 

As sonoridades flertam com o samba-baiano-tropical, explorado pelos grandes nomes da época como Caetano e Gil. Baiano, porém declarado um sampa-lover, canta um ode às ruas de São Paulo na faixa "Augusta, Angélica e Consolação". Uma canção curiosa é "Complexo do Épico", que aparece duas vezes no álbum (abrindo e fechando) e é mais uma daquelas experimentações sucateiras com foco na repressão militar sobre a classe artística brasileira. "Por que então esta metáfora-coringa chamada válida / Que não lhe sai da boca / Como se algum pesadelo estivesse ameaçando os nossos compassos / Com cadeiras de roda?"

Brincalhona, irônica, subversiva e tipicamente brasileira. Assim podemos definir a obra. Mesmo tendo sido apagado do cenário após o lançamento do Todos os Olhos, voltou a ser notado nos anos 90 quando estava prestes a largar a música, graças ao talking head David Byrne. O retorno proporcionou novas turnês no Brasil e no exterior, sendo reconhecido internacionalmente e tornando o Todos os Olhos um cultuado álbum em sua carreira.

06 agosto, 2014

Boogarins - As Plantas Que Curam (2013)

 Nota: 8,0





Ian Tambara







É de Goiânia para outra dimensão. Uma banda que nasceu de uma dupla no seco centro-oeste brasileiro e que hoje, com quatro integrantes, já faz shows internacionais em festivais pela Europa. Aparecer no cenário musical já é difícil nos dias atuais, agora imagine você querer sair do meio do "berço" da música sertaneja com uma banda de rock psicodélico. Tem que ter muita coragem ou ser muito louco mesmo. Eles foram.

Corajosos o suficiente pra fazer um som com tudo que uma banda psicodélica atual pode oferecer: sintetizadores, reverb's e distorções, além das letras que parecem um convite para uma dimensão paralela, como no single "Lucifernandis". Quatro malucos que chegaram a ser comparados com o Tame Impala, como na segunda faixa, "Erre", onde você pode sentir a impressão de estar ouvindo a intro de uma música da banda australiana.

O fato é que a música deles conquistou os produtores gringos e acabou virando o lançamento do seu primeiro álbum "As Plantas Que Curam", ano passado. No final de 2013, a Other Music Recording Co. lançou o álbum em CD e vinil, espalhando o som dos caras que hoje fazem turnê por importantes cidades europeias e americanas. Sinal de que o Brasil está sendo bem representado nos festivais afora.

A nota alta deve-se ao som de alta qualidade e à esperança que uma banda nova como essa ainda vá nos trazer muito som de qualidade. A nota alta que, sem querer ser "secador", geralmente vai decaindo a medida que as gravadoras (lê-se contratos e grana) surgem e que as bandas vão ficando mais comerciais. O que justifica o 8,0 e não o 10,0: é um grupo promissor, contudo ainda vai amadurecer e um dia, quem sabe, chegarão a um nível maior. Mas, como já foi dito, esses caras são diferentes. Esses caras são loucos. Esses caras são corajosos. Esses caras são foda!

Onde ouvir: http://grooveshark.com/#!/search?q=as+plantas+que+curam

Richie Allen And The Pacific Surfers - The Rising Surf (1963)

Nota: 8,4







Eduardo Kapp




1962/1963. California. Richard Podolor, ou Richie Allen, era um engenheiro de som (mais especificamente de gravação), produtor e guitarrista. Envolvido em atos importantes da época (Steppenwolf, Electric Prunes), o cara definitivamente tinha contatos e experiência com estúdios e etc. Provavelmente assim que formou uma espécie de projeto de estúdio, com músicos de sessão (aqueles caras que eram contratados pra ajudar na gravação de álbuns, mas não faziam parte das bandas que estavam gravando etc) de L.A.

Chamados Richie Allen And The Pacific Surfers, o gênero musical fica bem claro, certo? Eu diria que: nem tanto. Diferente de outros grupos conterrâneos e contemporâneos, como The Astronauts, The Rivieras ou até os Ventures, que faziam principalmente covers (das mesmas músicas) e não eram lá muito diferentes entre si, Richie Allen tem uma autenticidade incrível.

Músicas originais, mais complexas, com uma aproximação não tão pop (algumas exceções), fugindo das escalas mais "clássicas" do gênero. "Undercurrent", "The Rising Surf", "Foot Stomp U.S.A." e principalmente "The Quiet Surf" mostram que o real interesse aqui não era colocar multidões pra dançar e sim investir na sonoridade do gênero, desenvolver ainda mais. Passos como esse é que fizeram com que o Surf fosse tão importante pra sub-gêneros que viriam depois, como se percebe até hoje.

Os sons aqui tem muito groove, muito feeling e realmente te fazem sentir numa praia deserta, mas não daquela maneira sonhada, paradisíaca, e sim de um jeito que te deixa alienado, solitário e imerso em pensamentos. Bastaaante uso de tremolo, reverb, quase um dreampop sem sintetizadores. É realmente absurdo como as músicas fazem muito sentido entre si, e como isso cria momentos variados ao longo do disco. São várias experiências, desde a lenta e épica "Rumble" até algo mais frenético como "Surfer's Delight". Característico do gênero.

Não dá pra deixar também de falar sobre a produção, que comparada a maioria dos lançamentos da época, é muito superior. Muito bem gravado e mixado, mesmo sendo mono e tudo. Digo, sendo um grupo pequeno com uma gravadora nem tão grande (Imperial), é algo que não se esperaria de um material como esse.

Bastante trabalho instrumental, sendo "Skeg-Along-Pete" a única música com vocais, onde é contada a história desse tal Pete, que era o fodão das pranchas (?). A dúvida persiste, mas acho que isso foi uma espécie de crítica justamente as outras bandas contemporâneas, que na maioria de suas músicas tinham exatamente a mesma temática nonsense. Ou talvez seja só uma música idiota mesmo.

No geral, é um trabalho notório, raro e inovador. Uma influência enorme durante muitos anos e também um dos primeiros lançamentos que se afastou da ideia de surf como algo dance. Não que o surf dance seja algo ruim, mas quando essa linha do gênero é mais apegada ao rockabilly e estilos parecidos, se afastar dela é consolidar o surf como algo mais independente.

Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=q9OvfoYSqDo (parte 1)
                 https://www.youtube.com/watch?v=c28cQB2A-fE  (parte 2)

04 agosto, 2014

Com Truise - In Decay (2012)

Nota: 6,8






Eduardo Kapp





Tudo bem, ele podia ter um nome melhor, ou podia ter tentado algo mais ambicioso, como o último full-lenght, Galactic Melt, mas a questão é que esse álbum foi muuuito aguardado. E aqui, Seth Haley (Com Truise) preferiu jogar safe. E deu certo.

Já conhecido faz alguns anos, não só pelo seu trabalho solo mas também pelas participações e remixes com vários artistas mais conceituados (Neon Indian, Daft Punk, Tycho, etc), Haley é, além de um 80's-underground-revivalist, uma pessoa obcecada por sons visuais. Digo, quem é que vai discordar que o som aqui não é muito, se não extremamente condizente com a capa? Como algo conceitual,  numa linha tênue entre imagens e atmosferas criadas por sintetizadores analógicos, batidas reverberadas e isso sem falar das linhas de baixo.

Só me incomoda um pouco o fato de que, se alguém vai recriar uma atmosfera de algo que já passou e pretende lançar esse trabalho, devia ao menos adicionar algo mais interessante, algum tipo de diferencial, ou se não, porque eu escolheria ouvir um revivalista à alguém da própria época? E embora nesse disco muitos sons sejam interessantíssimos e muito bem produzidos (sério, a produção aqui está impecável), quem é que não vai perceber a falta de ideias pra beats diferentes ou algum outro timbre no synth? Bem repetitivo.

O que salva, são as músicas que apresentam esse diferencial. "Controlpop" tem uns timbres muito legais, e a beat muda bastante, é mais experimental. As linhas de baixo de "Smily Ciclops", ou a mais instrospectiva "Closed", encerrando o disco?

Mas se você não focar muito em originalidade ou tentar comparar com nomes mais antigos (e enormes, vide Depeche Mode ou Kraftwerk) e gosta daquela coisa synthpop, chillwave, com sons analógicos e tudo, vai gostar muito da maioria das músicas. As batidas são elegantes, muito bem marcadas e respiram muito bem. Sem falar dos sons meticulosamente organizados, cada detalhe é perceptível e parece estar no lugar certo, tanto em questão de volume quanto de coesão entre si. Não é a toa que o gênero representa muito bem boa parte de toda a cena indie dance e etc. Pode não ser o melhor trabalho de Seth, mas ainda sim é respeitável.

02 agosto, 2014

Esteban - Smokers in Airplanes (2013)

Nota: 6,0





Matheus Donay






Depois do tão aguardado e demorado ¡Adiós Esteban! (já consagrado antes mesmo do lançamento), Rodrigo Tavares, de pseudônimo Esteban, lança em 2013 o EP que foge drasticamente da sua sonoridade latino-pop-gaudéria que conquistou fãs internet a fora.

Apesar de levantar a bandeira de que o artista deve inovar sempre, Smokers in Airplanes deixa no ar uma certo ar de incerteza. Os vocais agora cantados em inglês para um público de língua portuguesa, de certa forma afastam aquela massa que tinha um identidade intimista compatível com as primeiras canções do Esteban. Alguns fãs chegaram a afirmar, não erroneamente, que "este álbum está mais Copeland que o próprio Copeland." Copeland é uma banda que Tavares cita frequentemente como uma de suas influências.

Falando em bandas influentes, uma delas é o Anberlin. Fã declarado, Esteban faz uma parceria com o vocalista Stephen Christian na canção Follow. Esta parceria, ainda que tão valorizada pelo Tavares (tudo bem, é uma realização pessoal), não se encontra em nenhum degrau maior do que as parcerias com Lucas Silveira, que embalavam os hits da Fresno, sua antiga banda.

Smokers in Airplanes é um trabalho independente, produzido pelo próprio artista. Ou seja, nele você encontra uma versão sem filtros do que é esse english side do Esteban. Mas não sejamos injustos: Tavares não perdeu o talento, porém a impressão é que se aventurou em terras que não dominava. 

Sendo um EP curto, com apenas 4 músicas, você provavelmente vai adotar aquela postura nacionalista do "ame-o ou deixe-o." Além de Follow, o trabalho conta com Modern Love (uma música em que o instrumental tem mais cara de Visconde do que Esteban), a mais animada Overboard, e por fim a melhor canção do EP: Red Light Sparkle.

Smokers não é um disco ruim, mas é como se você mexesse em time que está ganhando. Curiosamente, antes do lançamento do EP, Tavares lançou uma música avulsa de 'transição', cantada em espanhol e dando indícios do que viria pela frente. E mais curiosamente ainda, após algum tempo lançado o trabalho, voltou a cantar em português com a música Pra Ser, uma visita à sonoridade do Adiós. Num analogia simples, o valor absoluto do Smokers in Airplanes não é ruim, mas se for achar o valor relativo comparando com o que Tavares já produziu como artista, é um álbum abaixo de expectativas.