28 agosto, 2014

Jupiter Apple - Hisscivilization (2002)







Matheus Donay






Hisscivilization. Assim é chamado o terceiro álbum solo do Flávio Basso, o segundo assinado com o nome Jupiter Apple. Digamos que seja quase que uma doença compulsiva lembrar da Sétima Efervescência (álbum que já publicamos aqui) quando o assunto é Júpiter, mas você vai ter de lidar com a ideia de que a odisseia no espaço continuou, porém para outros planetas, outras vanguardas, outras vidas.

O antecessor Plastic Soda era um choque. Pular de um álbum revival psicodélico consagrado para um álbum de bossa-nova não é, nem de longe, o que se esperava dele. Mas ele fez. Já com sua vitalidade um pouco longe do ápice, lançou e acabou, naturalmente, com uma evasão da cena que tinha construído. Isso é ruim? Claro que não. O eu-artista Jupiter Apple produzia muito mais na sua nova fase tropical. Contraditório, né? A fase praiana é cantada em inglês.

Voltando ao Hisscivilization, o álbum aparenta ser algum primo de segundo grau dos seus trabalhos anteriores. Ouso dizer que é mais psicodélico que a Sétima Efervescência, além de não abandonar as bossinhas plásticas do álbum anterior. É um disco absurdamente experimental, com exploração de recursos sonoros muito vanguardistas. Algo entre futurismo e surrealismo. Uma espécie de Audouls Huxley tomando toda a solução.

Jupiter deixa sua voz em segundo plano, nas entrelinhas dos barulhos entorpecentes. As sonoridades eletrônicas soam como se fossem uma quebra de valores, um movimento anárquico, uma viagem e tanto ao futuro. Com certeza a preocupação do álbum não girava em torno de ganhar dinheiro, tocar em rádios, sair em turnê. Talvez por isso a estética artística tenha saído tão singular em cada detalhe.

Hisscivilization tem um porém: músicas que duram muito tempo, o que pode ser algo que lhe entendie caso não esteja disposto a experimentações musicais. O álbum todo dura mais de uma hora. Não é aquele disco que você vai tocar no violão ou vai botar para reproduzir no churrasco com os amigos.

As recomendações ficam pelas faixas "Tropical", "Overture and something else" e "Pyeus Malus et Fragaria Vesca" como as mais brasileiras do cd. Para as viagens futurísticas: "The Cat and Rabbit", "Exactly" e "The Homeless and Jet Boots Boy". Também tem as agradáveis "Act Not Surprised" e "The Futuristica Waltz", algo que lembra de certa forma a Canção pra Dormir, do seu primeiro disco.

De fato, é um álbum para quem gosta da arte por si só. E nesse quesito Jupiter se reinventa cotidianamente e acerta em cheio - paralelamente terminava seu curta "Apartment Jazz", quase que uma ilustração do seu disco. Muito longe de ser um álbum ruim, ainda assim requer muita paciência de quem o ouve. Pode ser uma boa para quem procura algo diferente. Bota os fones e dá uma chance.

Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=4YB02E9JCXg

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