10 agosto, 2014

Tom Zé - Todos os Olhos (1973)

Nota: 8,0





Matheus Donay






Se você é daqueles que acha que a música brasileira não presta e que o MPB dá sono, esta é a hora para você perder seus preconceitos.

Após lançar 3 álbuns com o mesmo nome (todos Tom Zé) e ganhar prêmios como o do festival da Record em 1967 no meio da efervescência tropicalista, as mirabolantes ideias da cabeça inquieta de Antônio José resultam em mais um álbum: Todos os Olhos. 

Tom Zé, agitado como sempre e autointitulado como o "cantor da classe operária" sempre teve em seu DNA canções extremamente politizadas, mesmo que passassem despercebidas a todos os olhos. A ditadura militar vivia seu auge da repressão, e nem assim foi párea para o baiano. A censura era driblada até mesmo pela capa do disco. Sim, uma bola de gude em um ânus simulando um olho. Já nas subversão das canções, você encontra "Dodó e Zezé" (um diálogo entre dois personagens ironizando o papel midiático) e "Todos os Olhos", um retrato das torturas cometidas pelo regime.

Saindo um pouco da esfera contextual e agora musicalmente falando, Tom Zé explora novos recursos sonoros. Martelos, capacetes de operários e percussões inusitadas (referência até os dias de hoje para novas bandas brasileiras). Se comparado com os trabalhos anteriores, Todos os Olhos é um disco experimental. Apesar de as canções não serem inovações exageradas, o álbum causou um choque e fez com que Tom saísse dos grandes meios de circulação, o que contrariou as expectativas, pois na visão dele era um trabalho foguento e cheio de malandragem. 

As sonoridades flertam com o samba-baiano-tropical, explorado pelos grandes nomes da época como Caetano e Gil. Baiano, porém declarado um sampa-lover, canta um ode às ruas de São Paulo na faixa "Augusta, Angélica e Consolação". Uma canção curiosa é "Complexo do Épico", que aparece duas vezes no álbum (abrindo e fechando) e é mais uma daquelas experimentações sucateiras com foco na repressão militar sobre a classe artística brasileira. "Por que então esta metáfora-coringa chamada válida / Que não lhe sai da boca / Como se algum pesadelo estivesse ameaçando os nossos compassos / Com cadeiras de roda?"

Brincalhona, irônica, subversiva e tipicamente brasileira. Assim podemos definir a obra. Mesmo tendo sido apagado do cenário após o lançamento do Todos os Olhos, voltou a ser notado nos anos 90 quando estava prestes a largar a música, graças ao talking head David Byrne. O retorno proporcionou novas turnês no Brasil e no exterior, sendo reconhecido internacionalmente e tornando o Todos os Olhos um cultuado álbum em sua carreira.

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