22 agosto, 2014

Yo La Tengo - Painful (1993)

Nota: 9,2





Eduardo Kapp






Provavelmente você já ouviu falar de um Yo La Tengo versão 00's, com lançamentos como "Popular Songs" (2009) ou "Fade" (2013). E putz, é algo bem diferente do que eles costumavam ser lá pelos ~anos 90~. Se isso é bom? Eu diria que não. YLT viveu seus melhores momentos naquela década. Desde um talvez tímido começo, se apoiando em um som leve, simples, "rock" e não muito ambicioso/consistente, de repente rolou um enorme divisor de águas, marcando uma fase de muita dinâmica na banda e um som que incorporava elementos de movimentos contemporâneos e ainda assim era inovador. Estamos falando desse álbum que tá com o nome ali em cima mesmo, Painful.

Eu sei, eu sei, parece não fazer nenhum sentido. O que foi que eles usaram que fez com que o som mudasse disso pra isso? Será que foi a influência do MBV ~mastermind~ Kevin Shields? Ou foi a Souvlaki Space Station? É provável, mas realmente não dá pra dizer. Por quê? O som aqui não se limita as ~regras~ dos clássicos álbuns shoegaze lançados nos 3-5 anos anteriores. Isso porque embora muitos elementos (reverb, muita distorção, menos enfoque nos vocais, delay etc etc) sejam incorporados, bastante coisa da fase anterior da banda foi levada em conta. E o resultado foi incrível.

São vários momentos. Muitos momentos. Começando com a primeira "Big Day Coming" (tem duas no álbum), até dá a impressão de que já dá pra se adivinhar a atmosfera geral do disco, ouvindo um feedback no fundo e um crescendo do piano. Mas tudo isso se esvai quando entra "From a Motel 6" em cena. Enormes distorções e etéreos vocais. A dose se repete em "Double dare", e quando você perceber que está imerso, será tarde demais. Talvez nem perceba a mudança de ritmo em "Superstar-Watcher", que é um atmosférico instrumental, com algumas vozes de fundo, aumentando ainda mais o efeito alienante.

O uso de organs já era bem conhecido no trabalho da banda, e aqui tem uma música que foca muito nesse instrumento. Óbviamente, estamos falando da muito bem trabalhada "Sudden Organ", que mistura toda a vibe que tinha sido construída até ali com uma noise jam, batidas pulsantes ecoando pelos dois lados e um monte de feedback acontecendo ao mesmo tempo. Intenso. O que era algo meio inexplorado antes foi até abusado por essas novas terras.

Mas a minha parte favorita com certeza é a segunda Big Day Coming, que é uma das canções mais memoráveis por aqui (tanto que o The Vines lembrou bem dela com "Sunshinin" lá em 2002). Tem todo esse tremolo nas guitarras, que depois de um acrescimo na intensidade, fica exatamente no ritmo da bateria. Uma música que, diferentemente de algumas outras no álbum, a letra não se trata só de meros problemas de relacionamento de uma pessoa nos seus 20 e alguma coisa, mas sim sobre um tal de um sentimento universal: a expectativa (pior coisa). Aquela cega, aquela sem explicação. Também apresentando as frenéticas noise jams, misturando pop com shoegaze, a confusão faz todo o sentido nessa faixa.

A questão é que, sempre achei esse álbum meio underrated. Na real, a própria banda é meio assim. Nunca teve o sucesso merecido, embora tivesse uma ótima aprovação da crítica. É difícil explicar. Difícil mesmo. Mas eu sei que tem alguma coisa de muito especial nesse disco. Um divisor de águas pra banda. Um abre-alas pra muita coisa que ainda estaria por vir. É claro, não é o melhor deles, mas com certeza um dos. E só digo isso porque de alguma forma, eles ainda conseguiram fazer coisa melhor depois disso (o que era inimaginável).

Onde ouvir: http://grooveshark.com/#!/album/Painful/185712



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