21 setembro, 2014

Cachorro Grande - Costa do Marfim (2014)

nota: 7,0






Matheus Donay





Existe uma espécie de cláusula moral que diz que o vestuário deve ser compatível com o som. E sim, aquele terninho engravatado do primeiro álbum em 2001 era um spoiler de que se tratava de um disco de rock saudosista. 13 anos após, o terno é substituído por exóticas roupas coloridas com pelagem de animais africanos. Costa do Marfim.

O rock contemporâneo se inclina e ruma à novas correntes que ocupam tempo e espaço. Como foi a psicodelia nos anos 60 ou o grunge e britpop nos anos 90. Curvando-se a essa tendência, a Cachorro Grande inova e abraça a neo-psicodelia, bem como troca os Stones pela nova geração ao melhor estilo MGMT. Uma evidência é o clipe do primeiro single, Como Era Bom, onde os caras estão todos pintados sob luzes fluorescentes e efeitos entorpecentes de filme.

Gravado no continente africano (não me pergunte porquê), o novo álbum é uma espécie de iconoclastia musical e quebra toda uma linha de produção que se estendia pelos primeiros trabalhos. Tudo bem, o antecessor Baixo Augusta já fugia um pouco o padrão Cachorro Grande. Costa do Marfim se apropria de certos elementos do último disco e não poupa na intervenção eletrônica.

Interessante também é a temática do CD como um todo. Desde a capa, encarte, clipe e a sua primeira música, xará do mesmo. Uma combinação de sonidos de animais nativos da África, ondas do mar sobrevoadas por aves (quase que um safari pela Savana) - sem contar os gritos humanos que imitam tribos locais.

O quinteto se atira a sua própria diversão. A impressão que dá é que os caras resolveram tocar o que têm ouvido mais ultimamente e lançar num cd. Perguntado sobre o tempo das músicas (que são na maioria entre 4 e 8 minutos), Beto Bruno diz que não tá nem aí, "o nosso som não vai tocar no rádio mesmo." O que deixa o álbum numa fluidez natural.

O guitarrista Marcelo Gross lançou esse ano seu disco solo, intitulado "Use o assento para flutuar". O mesmo nome é usado em uma canção do disco. A sugestão é de viagem. Sentar, apenas ouvir música, viajar. E Costa do Marfim sim, é um disco para flutuar ao além.

Musicalmente, chuto de longe as melhores do álbum: o single Como Era Bom, O Que Vai Ser e Torpor partes 2 e 5. Entrando em detalhes, Torpor partes 2 e 5 foge um pouco à receita de se fazer música. Começa como uma jam eletrônica até entrar o vocal rouco e cansado, que ao invés de cantar, relata duas situações absurdamente entorpecentes. Efeitos psicoativos. Distorções de realidade. As famosas bad trips.

Costa do Marfim é intrigante. Porque é uma ruptura, o início de uma nova era para a banda. É um disco agradável, mas não feito para agradar. Você pode curtir os riffs do Gross, os sintetizadores do Pelotas ou a energia eletrônica que fomentou boa parte do disco.

Onde ouvir: http://www.cachorrogrande.com.br/

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