16 setembro, 2014

My Bloody Valentine - M B V (2013)

Nota: 9,3






Eduardo Kapp





Cara. Já fazem mais de 20 anos. 20 anos desde o lançamento essencial do My Bloody Valentine. No caso, um dos discos mais importantes (e caros) dos anos 90: "Loveless". Extremamente bem recebido pela crítica, conquistando uma parcela de fãs muito fiéis, influenciando bandas e mais bandas com o que acabou sendo chamado de shoegaze, combinando várias camadas de efeitos e guitarras distorcidas com vocais etéreos e quase escondidos no fundo das músicas. Um álbum que alterou toda a percepção de o que era música e como se fazia música de milhares de pessoas. De qualquer forma, essa história já é conhecida, ainda mais depois de tanto tempo.

Só o que talvez a galera não saiba, é que o Loveless também foi o último lançamento da banda em todos esses 20 e 2 anos (até 2013). Talvez pela falência da gravadora, que gastou algo como 500 mil dólares no disco e este nem de longe recuperou a grana; pela obsessão perfeccionista do líder criativo do grupo, Kevin Shields, que era relutante em lançar o pouco material novo que compunham entre 92' e 95'; pela falta de paciência de O'Ciosoig e Googe, que saíram da banda nos anos seguintes. A questão é que durante esse tempo de incertezas, muito se falou em um terceiro álbum, que talvez pudesse ser grandioso como seu anterior. Existiam todo tipo de rumores. Shields chegou a dizer numa entrevista em 97', num chat da AOL (!!!), que se não lançasse o novo álbum naquele ano, estaria morto. Shields viveu mas o álbum continuou embriônico.

Todas essas tretas levaram ao inevitável fim da banda. Ninguém mais tinha esperança de que o lendário terceiro álbum algum dia fosse se tornar realidade. As pessoas já estavam confortáveis com o fato de que eram só rumores e nada aconteceria. Eis que então, depois de uma inocente reunião da banda em 2008, os caras começaram um world tour (o primeiro desde 91), tocando em dezenas de lugares. "Ok, legal, eles estão tocando de novo, mas nah, não vai rolar novo álbum, já faz muito tempo". Janeiro de 2013, Shields anuncia que o novo álbum está pronto e masterizado, e seria lançado em alguns dias. Finalmente o rumor era verdadeiro. Chegava ao mundo o terceiro álbum do My Bloody Valentine.

De surpresa, o que poderia se esperar de um disco como esse? Com tanto tempo entre um lançamento e outro, será que de longe se aproximaria do clássico de 91'? Todos estavam com medo de ouvir, tantos os fãs da época, quanto os fãs mais novos que eles ainda conquistavam (me incluo aí).  Será que o tempo de espera, a expectativa, o hype devem corresponder a qualidade do álbum? Não.

Pensar no M B V como um disco lendário não é coerente. Não faz sentido colocar toda essa pressão. O jeito era ouvir como se fosse apenas outro lançamento, mas nos primeiros acordes de "She Found Now", já deu pra perceber que, se esse disco fosse lançado em 92, não teria feito diferença. Eles começaram exatamente onde o Loveless parou. É como se nada tivesse mudado. Será que eles não envelhecem? Como eles pararam no estilo de 20 anos atrás?

A mesma receita: camadas e camadas, ondas de noise, as características levadas pela tremolo bar de uma jazzmaster com afinação diferente a cada nova faixa. A suave e macia voz de Bilinda Butcher continua surtindo o mesmo efeito de contradição e oposição ao barulho violento de Shields. E a receita novamente deu muito certo. A energia permanece inalterada em "Only Tomorrow", "Who Sees You" e "In Another Way". Intacto, à altura do Loveless.

Os vocais quase em sussurro, os timbres barulhentos, a bateria marcada e simples dão vida a um disco que consegue alcançar uma intimidade com o ouvinte mesmo em meio a tanto "caos". Essa sempre foi a peça-chave da banda, que é o que faz ser tão adorada ou tão odiada.

Talvez os únicos problemas por aqui sejam a tentativa eletrônica/pop em alguns sons como "New You" ou a suave "Is this and Yes", que embora sejam interessantes, parecem sem muita direção, soltas. E, claro, será que o fato de soarem praticamente iguais a 20 anos atrás seja tão bom assim? De qualquer forma, acho que todos concordam que independente de tudo: esse foi um ótimo álbum.

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