23 dezembro, 2014

Criolo - Convoque Seu Buda (2014)

nota: 9,2





Matheus Donay






Antes do lançamento do Convoque Seu Buda, a questão era: o que esperar do Criolo 3 anos após o (louvado seja) Nó Na Orelha? Até tinha receio que o mainstream subisse à cabeça desse cara. Tsssss, que nada. Criolo "repete a receita" do seu segundo disco. Não, não que ele seja um artista que utilize de fórmulas prontas pra fazer um trabalho - muito ao contrário. Mas mantém a humildade e a fidelidade com sua carreira artística.

Os saudosistas esperavam por algo meio próximo ao Ainda há Tempo, lá de 2006. Aquele rap sem maquiagem, tramitado em beats, simplório e de vocal tocado do início ao fim. O Nó na Orelha, sucessor, já era mais eclético. Ia do samba ao rap, do MPB ao afro, tudo isso em poucos minutos. E é bem por aí que o Criolo mantém a receita. Convoque seu buda é de tudo um pouco. Uma mescla de rap, reggae e tudo que o a brasileirice musical pode ofertar. Em Pegue Pra Ela rola um solo de guitarra que chegou a me lembrar Os Mutantes... é. Álbum que não dá margem pra falar que o rap não tem criatividade e melodia.

Temático, eu diria. Desde as vestimentas nos shows, nome e capa do álbum e a letra da primeira, Convoque seu Buda. Algo meio místico. Meio alegórico. Enigmático. Instigante. Palavras não faltam pra descrever o conjunto além-música que ronda esse disco. O intérprete Criolo também instiga cada vez mais. É em cima do palco, sendo muito mais do que um reprodutor da música, mas sendo parte dela, parte do espetáculo. Sem delongas, esse vídeo demonstra bem a interpretação para sua própria música. É olho no olho, tête-à-tête. 

Não que seja regra o rap falar sobre problemas sociais, mas o gênero ainda é marginalizado junto com quem o produz. Criolo talvez já não seja mais visto assim pois acabou bem sucedido e reconhecido pelo seu trabalho, mas ainda continua a colocar o dedo na ferida e deixar sempre nas entrelinhas a sua mensagem. Destaco Casa de Papelão como uma das melhores letras, um retrato dramático de quem luta pela moradia. Outra que vale o destaque é Cartão de Visita, que conta com a participação da Tulipa Ruiz. Uma exposição de luxúrias das mais variadas, pura ostentação. Criolo cita MC Lon portando VIP e Tássia com seu blog de fina estirpe, enquanto o menino no farol se humilha e detesta. É amigo: não é GTA, é pior, é Grajaú. Fermento pra Massa e Plano de Voo não ficam pra trás.

Criolo conquistou seu público com o segundo disco, e cativa cada vez mais pessoas com o novo trabalho. Com pouco tempo de vida, Convoque Seu Buda já é um disco cultuado. Já tá na boca principalmente de uma juventude que se identifica com muita coisa. Seja uma causa social, um descontentamento expresso nas canções ou o conjunto da obra. Criolo desempenha papel fundamental frente à classe artística brasileira. Sustenta sons tipicamente brasileiros ao mesmo tempo em que difunde um gênero que enfrenta muita dificuldade para obter espaço: o rap. Convoque Seu Buda é, de longe, um dos melhores álbuns lançados em 2014.

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