08 dezembro, 2014

Flying Lotus - You're Dead (2014)

Nota: 9,0







Eduardo Kapp





Rapaiz, esse disco.

Desde 2006, Steven Ellison, a.k.a. Flying Lotus vem deixando trabalhos incríveis. Redefinindo limites musicais a cada lançamento, é um artista bastante versátil. Rapper, produtor, manjador das tecnologias e doido em tempo integral, é alguém que nunca sabemos o que esperar, musicalmente falando. 

Desde o "Until the Quiet Comes" eu fiquei cada vez mais surpreso e intrigado com os sons advindos desta persona. Quem aí lembra daquele short-film (2012) do álbum, que tinha 3 de suas músicas tocando, enquanto imagens exóticas eram combinadas com imagens (também exóticas) da periferia, mostrando uma espécie de visão das guerras de gangue do ponto de vista de um universo paralelo (???).

Era nessa mesma época que eu comentava cozamigo: "velho, essa coisa é vanguarda, é de outro mundo, não pode ser!!!". Absurdamente, essa vanguarda de Steven Ellison só se expandiu no "Cosmogramma". Agora, no "You're Dead", mais do que nunca, é a epifania máxima do artista. Aqui, todas as suas influências estão claras, todo seu modus-operandi dá as caras e tudo flui da maneira mais natural possível. Combinando de formas impensáveis o Jazz com o Rap e talvez algumas estruturas avant-garde de algo que lembra o rock underground do fim dos anos 60 e é claro: a música eletrônica, que sempre  foi peça chave em seus trabalhos.

19 faixas, com somente 2 delas tendo mais de 3 minutos. Quasi-conceitual, a temática aqui retoma também um pouco dos álbuns anteriores, que buscaram respostas para o entendimento do universo, do subconsciente, dos sonhos, da periferia e agora, neste disco: A morte. Presente na vida de todos, temida, desejada, indecifrável, o medo do desconhecido. Todos esses aspectos estão aqui explorados, transcendendo entre as lacunas do que entendemos e até onde podemos pensar dentro de qualquer um desses paradigmas sobre a morte.

Talvez, então, por unir lacunas, por buscar uma espécie de conjunto de respostas, as músicas fazem mais sentido como um todo com exceção, talvez, dos singles "Never Catch Me (ft. K. Lamar)" e "Dead Man's Tetris (ft. Cap. Murphy & Snoop Dogg)", que possivelmente foram o motivo pelo qual o disco emplacou na billboard ou algo que o valha (e eu não tô reclamando).

"Agitados" ou "parados" (eu odeio esses adjetivos pra se referir a música), a maior parte dos momentos são bastante contemplativos, expondo pensamentos e temáticas de forma sutil (ou não), num fluxo. Mesmo assim, por mais reflexivo e over-complexo que possa ser, em nenhum momento deixa de ser interessante. É aí que voltamos para o assunto das influências: o jazz está mais presente do que nunca. 

E não é qualquer jazz, ou qualquer influência: Steven Allison é simplesmente sobrinho-neto (eu não sei se isso existe) de Alice Coltrane, sim, esposa do lendáriow John Coltrane. E não pense que é um mero revival, é o clássico intimamente ligado ao novo, é a metamorfose necessária pro ciclo. Free-Electro-Hip-Hop-Jazz. 

Esse parentesco está também ligado a temática: Alice Coltrane morreu em 2007, época onde algumas faixas desse disco já estavam em seu formato embriônico. Se momentos onde a temática do álbum, a reflexão e certas excentricidades eram detalhes dos álbuns anteriores, neste é um ponto central. 

Os vocais de Angel Deradoorian em "Siren Song", cadenciados, em meio a drones e sintetizadores; a minimalista "Ready Err Not", com pequenos e estranhos sons ritmados; "The Boys Who Died In Their Sleep", que é praticamente indescritível.

Um legado é o que esse disco deixa, projeta uma sombra enorme no caminho de quem tomá-lo como influência. Experimental, visionário, ambicioso em tantos aspectos. Provavelmente entre os 10 melhores desse ano.

Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=Fi3afWk_c4E


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