04 janeiro, 2015

Júpiter Maçã - Uma tarde na fruteira (2008)

nota: 8,8






Matheus Donay





Mais de década passada após o aclamado (talvez nem tanto quanto merecesse) Sétima Efervescência, Flávio Basso voltava a assinar um trabalho seu colocando acento no Júpiter. É, a volta do man à língua derivada do latim após as viagens britânicas Ingleterra afora. O álbum foi lançado primeiramente na Espanha, em 2007 e com um 'bônus' que eram músicas extraídas de discos anteriores e até uma capa diferente. No Brasil, chegou em 2008 e com a 'escalação original'.

A primeira vista e superficialmente falando, o álbum não soava tão genial quanto o primeiro. Nem tão psicodélico, nem tão rock'n roll, nem tão enérgico. Pois bem, superficialmente falando meeeesmo. Bastariam algumas audições mais pretensiosas para ver Júpiter se reinventando e sim, usando muitos dos recursos que lhe consagraram no underground do rock nacional nos anos 90.

Uma montanha-russa é a vida desse cara. Entre altos e baixo, bads e retornos por cima, Uma tarde na fruteira chegava no Brasil como (mais um) trabalho bem sucedido artisticamente. E que volta meus caros. Logo nos primeiros segundos da primeira faixa, aka A Marchinha Psicótica de Dr. Soup, um mergulho numa mistura carnavalesca à bossa nova-psicodélica. CREDO. Júpiter reverencia na marchinha várias das suas influências como aqueles carinhas lá da geração beat, Dylan e Allen Ginsberg, ou então o viajão-mor Aldous Huxley.

Fica difícil apontar qual o álbum com mais cara de brasilzão desse cara. Uma Tarde na Fruteira é um apanhado de tudo que ele construiu em sua carreira solo, resumidamente. Psicodélico, delicado, orgânico e ainda por cima com uma pecha de cult, vide fotos, clipes e letras de quem sabe muito de tudo e um pouco. Bossinhas praianas, sintetizadores sem escrúpulos, sopros... digamos que não chamar de eclético seria um erro.

O disco recorre muito às referências do cara, como já citado na Marchinha Psicótica. Não só nela, como em diversas outras faixas, como por exemplo o ode anárquico a Porto Alegre em Casa de Mamãe, ou na música dedicada exclusivamente a George Harrison em Beatle George. Não por isso, há ainda uma espécie de auto-homenagem quando em Tema de Júpiter Maçã rola um revival de várias fases da vida do cara. "Lugares do caralho e gente afudê, paixões em Liverpool..."

Como dizia no início do texto, não tão explicitamente mas ainda assim os recursos que deram visibilidade ao Júpiter voltam à tona. Poeticamente mais sofisticada desta vez, a sexualidade xula é substituída quando "de joelhos em minhas preces estimulando risadinhas em mademoiselle". Mademoiselle Marchand e Little Raver são a cara da nova abordagem.

"O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa." Galeano parecia estar pensando no Júpiter quando escreveu a frase. Ora, ela resume bem o que é esse cara e até mesmo especificamente esse disco. Não há o que se esperar quando se pode esperar tudo dele. Sempre imprevisível, renovador e autêntico.

Enfim, álbum muito importante na carreira do Júpiter. Voltou a gravar em português, esbanjou maturidade, conquistou uma geração de admiradores novos no Brasil e deu gás na carreira tão turbulenta dele. Ah, e se der saudade da Sétima Efervescência por causa daquela enxurrada de músicas pra dançar, nem esquenta. Bota pra tocar Síndrome de Pânico ou A Menina Super Brasil no volume máximo que a farra é certa. 

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