Nota: 6,9
Fernanda Rodrigues
Fui atrás do álbum dos caras por causa da propaganda na
televisão, confesso. E porque a música que tocou me lembrou algo parecido com um
Life’s For The Living acelerado, de
Passenger (acabei descobrindo depois que se tratava da música de abertura do
álbum, Bom Começo). A questão é que a
proposta deles é criar um folk meio abrasileirado e com tons de blues. Sol-Te é
o segundo álbum da banda (que teve sua formação alterada desde o primeiro
disco) e tem um certo apelo midiático, com músicas para comercializar sim, mas que
ainda assim permitem sentir que eles deram o seu melhor.
Isso porque o seu interesse em fazer um bom trabalho
aparece logo de cara na ajuda que eles buscaram em Christiaan Oyens, que já
trabalha com a área desde o início de sua parceria com Zélia Duncan, misturando
suas influências de bares americanos ouvindo Ry Cooder e Michael Hedges com o
MPB da brasileira. A modelagem que ele fez na banda foi sutil, aparecendo com
seu violão de colo havaiano e backing vocal, mas já serviu de alguma coisa para
dar um empurrãozinho.
O apelo ao grande público acabou por ter sido um pouco
inevitável, acredito eu, ou se não eles poderiam correr o risco de perder boa
parte da audiência que conseguiram com a participação no Super Star, da
Globo, mas a tão famosa intimidade que eles transmitem com as músicas ainda é forte. Pra
se ter uma ideia de como eles apostam nessa conexão entre o novo álbum, suas
melodias e o ouvinte, eles lançaram um hotsite pra que as pessoas pudessem
ouvir a faixa Um Tanto com uma
condição: ouvir a música sem mexer no mouse ou fazer qualquer outra coisa, a
não ser se deixar levar pelo som. Se você tentar trapacear, a música para assim
que o mouse insinuar mover-se, como se fosse aquela pessoa que para de falar quando
percebe que a gente não está prestando atenção direito no que ela fala.
E é legal ver que a banda quer mesmo conquistar os fãs
pela graça, pela brincadeira. Em entrevista ao canal do youtube Curitiba Cult,
o vocalista Rodrigo Nogueira falou que o nome do grupo vem de uma coisa que
provavelmente muitas pessoas já imaginavam (se porventura já conheciam): da
série, No Reino dos Suricatos, do Animal Planet. A explicação é que eles gostam
do modo como esses animais agem em conjunto, quase como se não houvesse
hierarquia, cada um com a mesma importância (irônico, porém, que mesmo querendo
se inspirar no sistema político dos suricatos, Rodrigo seja praticamente sempre
o único que fala em nome da banda, mas okay, pequeno detalhe). Além disso, os
caras fazem questão de manter sempre outra marca registrada: instrumentos
inusitados. Foram buscar até um instrumento de sopro dos aborígenes australianos,
o didjeridoo, que depois foi utilizado na faixa Inseparáveis, para fazer com que, se as pessoas não lembrassem mais
o nome da banda, ao menos pudessem se referir à mesma com perguntas como “qual
o nome do grupo daqueles caras mesmo? Aqueles com uns instrumentos meio
bizarros, que a gente nunca viu, mas que fazem um som bom”.
O que importa é que, embora ainda esteja um pouco longe
de representar a inovação (talvez nem tão longe assim, porque não tem muita
banda por aí se arriscando no folk no Brasil – pelo menos não tanto como a
quantidade de bandas de rock que misturam heavy metal), Sol-Te é um álbum que dá
vontade de aprender algumas cifras pra tocar no luau com os amigos ou ouvir no
fim da tarde olhando o pôr-do-sol. Portanto, largue o mouse, desligue o cérebro e dê uma
chance. Pode até fingir que é Passenger ou The Lumineers, porque, de qualquer
forma, parece que é nesse horizonte que Suricato se espelha e segue firme e
forte.
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