14 janeiro, 2015

Suricato - Sol-te (2014)



Nota: 6,9






Fernanda Rodrigues




Fui atrás do álbum dos caras por causa da propaganda na televisão, confesso. E porque a música que tocou me lembrou algo parecido com um Life’s For The Living acelerado, de Passenger (acabei descobrindo depois que se tratava da música de abertura do álbum, Bom Começo). A questão é que a proposta deles é criar um folk meio abrasileirado e com tons de blues. Sol-Te é o segundo álbum da banda (que teve sua formação alterada desde o primeiro disco) e tem um certo apelo midiático, com músicas para comercializar sim, mas que ainda assim permitem sentir que eles deram o seu melhor.

Isso porque o seu interesse em fazer um bom trabalho aparece logo de cara na ajuda que eles buscaram em Christiaan Oyens, que já trabalha com a área desde o início de sua parceria com Zélia Duncan, misturando suas influências de bares americanos ouvindo Ry Cooder e Michael Hedges com o MPB da brasileira. A modelagem que ele fez na banda foi sutil, aparecendo com seu violão de colo havaiano e backing vocal, mas já serviu de alguma coisa para dar um empurrãozinho.

O apelo ao grande público acabou por ter sido um pouco inevitável, acredito eu, ou se não eles poderiam correr o risco de perder boa parte da audiência que conseguiram com a participação no Super Star, da Globo, mas a tão famosa intimidade que eles transmitem com as músicas ainda é forte. Pra se ter uma ideia de como eles apostam nessa conexão entre o novo álbum, suas melodias e o ouvinte, eles lançaram um hotsite pra que as pessoas pudessem ouvir a faixa Um Tanto com uma condição: ouvir a música sem mexer no mouse ou fazer qualquer outra coisa, a não ser se deixar levar pelo som. Se você tentar trapacear, a música para assim que o mouse insinuar mover-se, como se fosse aquela pessoa que para de falar quando percebe que a gente não está prestando atenção direito no que ela fala.

E é legal ver que a banda quer mesmo conquistar os fãs pela graça, pela brincadeira. Em entrevista ao canal do youtube Curitiba Cult, o vocalista Rodrigo Nogueira falou que o nome do grupo vem de uma coisa que provavelmente muitas pessoas já imaginavam (se porventura já conheciam): da série, No Reino dos Suricatos, do Animal Planet. A explicação é que eles gostam do modo como esses animais agem em conjunto, quase como se não houvesse hierarquia, cada um com a mesma importância (irônico, porém, que mesmo querendo se inspirar no sistema político dos suricatos, Rodrigo seja praticamente sempre o único que fala em nome da banda, mas okay, pequeno detalhe). Além disso, os caras fazem questão de manter sempre outra marca registrada: instrumentos inusitados. Foram buscar até um instrumento de sopro dos aborígenes australianos, o didjeridoo, que depois foi utilizado na faixa Inseparáveis, para fazer com que, se as pessoas não lembrassem mais o nome da banda, ao menos pudessem se referir à mesma com perguntas como “qual o nome do grupo daqueles caras mesmo? Aqueles com uns instrumentos meio bizarros, que a gente nunca viu, mas que fazem um som bom”.


O que importa é que, embora ainda esteja um pouco longe de representar a inovação (talvez nem tão longe assim, porque não tem muita banda por aí se arriscando no folk no Brasil – pelo menos não tanto como a quantidade de bandas de rock que misturam heavy metal), Sol-Te é um álbum que dá vontade de aprender algumas cifras pra tocar no luau com os amigos ou ouvir no fim da tarde olhando o pôr-do-sol. Portanto, largue o mouse, desligue o cérebro e dê uma chance. Pode até fingir que é Passenger ou The Lumineers, porque, de qualquer forma, parece que é nesse horizonte que Suricato se espelha e segue firme e forte.


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