26 abril, 2015

Happyness - Weird Little Birthday (2014)

Nota: 9,2







Eduardo Kapp




De tempo em tempo, o buraco branco do underground musical cospe algo genial. Sem muito hype, anúncio ou dinheiro. Despretensioso. Quem é que dá a mínima?

A capa é um bocado estranha. Tem essa criança com a droga de um boné azul e esse cenário weird/chill que não te deixa tomar uma decisão final sobre a coisa toda. Não é qualquer coisa que te deixe pensando em um tipo de som específico. De qualquer forma, esse parece ser o ponto principal do disco todo. Estranho, chill, sutil, não tá nem aí pra ti.

Uma espécie de Smashing Pumpkins que superou as críticas do Pavement, aceitou o fim do Punk e voltou a ouvir Velvet Underground. Digo, esqueça sons over-detalhistas e pretensiosos. São histórias peculiares, não-lineares e divertidas pra burro. Não que sejam um monte de piadas idiotas, mas aquela ironia séria ou algo assim. Não sei explicar.

Tem umas atmosferas meio Yo La Tengo-esque, tipo em "Baby, Jesus (jelly boy)" ou em "It's on you". Tudo bem lo-fi, mas ao mesmo tempo hi-fi? Ok, ok, tu deve 'tar pensando: "deve ser mais um desses discos genéricos """"indie"""" nessas playlists que surgem no youtube ou qualquer coisa assim". NÃO! God, no. Eu já falei da influência do Velvet, né? Só que mais pop e clean e tudo. E essa coisa das influências eu digo no bom sentido, não como algo que te perturbe e te deixe chateado durante a música.

Acho que isso que deixa tudo tão intrigante. Mesmo com uma aparente aproximação "indie rock lo-fi" é tudo tão novo, de uma certa forma. "Orange Luz" e "Regan's Lost Weekend (Porno Queen)" tem esses versos ótimos e ficam na cabeça e acho que todo mundo pode se identificar com algumas coisas: "Well I'm sorry that you lost your shit *drums start* // And it's all I've got to say about it, tonight." Isso fora a instrumentação toda, que é um estouro. Melodias simples que soam complexas,  parece que tudo tá no lugar.

Já pro fim, eles acabam soando como uma espécie de Meadowlands (o clássico do The Wrens) moderno. Vai ficando difícil de escapar da imagem da estrada vazia num carro velho. "Lofts" é o centro disso, que aparentemente foi escrita depois da banda ter ido numa festa que de acordo com algum deles "[..] there was a cat lurking around the corridors and all I could think about all night was what that cat must've thought of us." Verdade ou não, faz muito sentido ficar intrigado com o que um gato pensa da gente.

Muito dinamismo, melodias brilhantes, lo-fi, peculiarismos e epifanias. Noise e clean e até um tanto de teenage angst. Essencial.

Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=vNoUnqenMvE (não tem o álbum todo pra ouvir online, então contentem-se com a melhor track)

22 abril, 2015

Tyler, The Creator - Cherry Bomb (2015)

Nota: 7,6







Eduardo Kapp




If you're reading this, it's too late. A essa altura, noise, jazz, fusion e funk já chegaram em praticamente todos os lançamentos hip-hop/rap relevantes dos últimos tempos. Provavelmente vou me arrepender por dizer que essa seria uma "tendência" atual. Deve ser. Yeezus, The Money Store, Cosmogramma são só alguns exemplos (entre os grandes) recentes.

Sem arreganho. Guitarras, distorção generalizada, agressividade, nonsense e uma rebeldia (relativa) tipicamente tyleriana. Sei lá, tira um pouco das piadas e joga o "Wolf" num acelerador de partículas. Aproveite uma piscina que tá dentro dum caminhão em alta velocidade desgovernado. Tá, nem tanto. O disco começa mostrando muito mais complexidade instrumental do que qualquer coisa anterior. "Buffalo" é inesperada do início ao fim, um dos melhores exemplos disso.

A deliciosa "Find Your Wings" é, no entanto, uma das maiores armadilhas desse disco. Te embala com todo aquele fusion, soul, os corais todos e esses metidos que tocam piano muito bem. Não se engane. A próxima track é a mais barulhenta d(ess)a história. Começa parecendo uma espécie de Interstellar Overdrive e logo explode numa batida espumando de raiva, Tyler cantando completamente submerso, isso quando dá pra ouvir alguma coisa da voz do cara. Tie the know // kick the chair // float in the air // it's cherry bomb! Pensa numa letra que não faz o menor sentido. Pense até em sintetizadores distorcidos. Tyler não é nenhum Death Grips, mas fez a coisa soar suficientemente estranha.

Embora tenha esses momentos ultra-noise-doidera tem muito groove espalhado pelo álbum. Desde "Blow my Load" até o single "Fucking Young", dá pra ver até umas influências 90's. Na verdade tem tanta influência diferente, é difícil distinguir algumas coisas. E em outros momentos fica simplesmente.. fácil demais. É, fácil demais. Tyler sendo Tyler, versos homofóbicos como piada versos nonsense como novidade golfwang-wolfgang como novidade e "I don't like to follow the rules // that's just who I am" soa como uma piada. As vezes a experiência sonora é muito ligada à imagem que criamos em nosso subconsciente, e não sei vocês, mas eu costumo pensar nesse Tyler.

Não que ele não possa ser levado a sério, mas é como aquela pessoa que tá sempre fazendo uma horinha com todo mundo, tudo acaba soando como a droga de uma piada. E eu já falei do Kanye em "Smuckers" ? A música é um estouro, no duro, uma das minhas favoritas desse disco. A questão é que ele também soa um bocado engraçado, só pela imagem dele.

Essa complexidade nova chega a assustar (num bom sentido!), acho que só falta um pouco de visão de jogo e né, algum amadurecimento nos versos. As coisas acabam se compensando, a verdade é que esse álbum acaba sendo bastante hipnótico depois de algum tempo.

Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=KAb30SO1iw4

16 abril, 2015

Sufjan Stevens - Carrie & Lowell (2015)

N
   o
       t
          a
              : 6,0



Eduardo Kapp




A moral é que às vezes eu simplesmente esqueço como essa ~era da internet é absurdamente rápida. Digo, a pessoa comum mal ouviu um ou dois álbuns que tenham sido lançados esse ano e já tem listas e mais listas dos melhores até aqui, ou listas de puro hype, comentando futuros lançamentos. Velho. Tentar acompanhar sozinho é como conversar com 3 pessoas ao mesmo tempo enquanto resolve uma prova de eletromagnetismo.

Eis que no meio disso tudo brota um novo álbum do Sufjan Stevens. Não é todo dia que o maluco sai de um hiato de 5 anos, né? Nesse período de quase-silêncio, rolou uma porção de coisas, até. O cara lançou um álbum >E< um EP com o projeto paralelo Sisyphus  (que é beeeeem diferente do estilo do Sufjan, no geral), fora uns sons de natal. Nossa eu simplesmente não entendo sons de natal. Mas isso fica pra outra review.

Era visto que depois de lançar coisas como o enorme Illinoise a expectativa pra qualquer outro álbum seria muito grande. Que baita disco esse, muito, extremamente diversificado, complexo, layered, intrigante. Aquele universo paralelo único do artista, a originalidade em seu maior momento. Sim, eu ainda tô falando do Illinoise, porque no recém-lançado Carrie & Lowell, a coisa é bem mais.. r00ts.

De início tem essa aproximação pop, aparentemente felizinha e tudo. Bom.. isso até tu perceber a tensão ENORME em cada verso. No meio de muito intimismo, folk roots, é como se o Sufjan fosse quebrar a qualquer momento. Sabe quando as pessoas tão discursando e tão naquele estado de quase chorar?  Essa atmosfera é genial, tu fica aflito junto, mergulha nos seus flashbacks de infância, onde ele fala sobre sua mãe (que morreu), e seu aparente distanciamento da mesma enquanto era viva. É pesado, pra dizer o mínimo.

É uma relação extremamente complexa, pelo que parece. Ele não exatamente "odeia" a mãe, mas rolou muita coisa trash. De qualquer forma, ele sente que ela ainda tá por perto, algo recorrente, uma espécie de energia que acompanha (sim, chega a esse ponto de intimismo).

Essa vibe estranha, triste e sombria consegue te prender até "All of Me Wants All of You". Não que depois isso não continue, mas acho que é a partir daí que começa o grande problema desse disco. Ele simplesmente não muda. Não que seja ruim, mas tu sabe exatamente o que esperar a cada música. É uma boa experiência, mas não é tão boa quando repetida incansavelmente. Parece que estamos ouvindo o Sufjan lá do início da carreira, na época do Seven Swans, mas obviamente com uma carga musical muito maior.

Por mais intimista e pessoal que fosse, eu sinto que justamente por isso dava pra ter sido tão melhor, ainda mais nesses sentimentos complexos. Literalmente algumas das coisas mais importantes da vida do cara viraram uma porção de músicas Violão&Voz. Sério isso é um negócio que me deprime um bocado. Vou ficar mal só de pensar o quão melhor podia ter sido. Embora isso possa soar um tanto egoísta ou algo assim, como uma experiência o disco simplesmente falha em manter o ouvinte interessado. Nos sons que não tem algum hook nem dá pra lembrar de muita coisa.

O que pensar?

Onde ouvir: http://music.sufjan.com/album/carrie-lowell

09 abril, 2015

Vespertinos @Theatro 13 de Maio




Foi um puta hype pr'essa noite, hein?

Os caras apareceram na Supernova Radio Web e até no ~JA~. No duro, tinha um bocado de gente falando sobre isso nos últimos dias. Fora o monte de rostinhos conhecidos que compareceram, tava um público doido por lá.

Cheguei cedo, logo garanti meu lugar no segundo andar do theatro. Todo mundo bem vestido e essas coisas todas. Fiquei meio assim com o fato de que tinha tanta gente mais velha. Será resultado do lance de ter aparecido no JA? Indicativo que o som é "amigável" por demais? Nah, não foi o caso. No início eles tavam meio assim, nervosos e tudo (menos o Alexandre, que se mexia pela banda inteira o tempo todo), mas a coisa foi ganhando dimensão.

Digo, "Escadarias" foi jogada ensaiada, com as luzes e a decoração toda, coisa bonita. Depois veio a minha favorita "Café de Terça", que tava impecável. Fazia tempo que eu não via um show local com uma acústica massa assim. O que eram aqueles metais?! Demais.  Bom, até aí nada muito além do esperado, certo? Os malditos entraram com uma panca de músicas novas, que dizem ser de seus futuros primeiro e segundo discos (?).

Rapaiz, a partir daí a experiência foi desafiadora. As mentes despreparadas tiveram que trabalhar pra processar tanta coisa. Alguns sons confusos, outros mais experimentais, outros cheios de energia. Aliás, taí algo que eu notei. Em sons tipo "Além de Mim" (que até onde eu me lembro foi uma das únicas que disseram o nome?), o baixo, a bateria e principalmente a guitarra tavam numa sintonia infernal, numa vibe surf-stoner-rock ou sei lá o quê, num dos poucos momentos em que o quase-maniático-não-erra-uma que era o baterista se soltou e poutz, foi doido. No entanto, o que parecia empatar essa vibe toda era justamente o que fazia o ponto alto de outras músicas: o vocal e o violão. A dica: vamo deixar essas influências se libertarem perfavore! But that's just me.

As músicas novas mostraram maturidade e essa coisa toda mas mostraram algo muito mais importante (ao meu ver): não ter medo de fazer merda/experimentação/doidera/TRASH SOUNDS FOREVER (não que tenham feito, hehe). Depois disso tudo, encerraram da melhor maneira com a segunda metade do EP, com direito a participação especial e tudo.

Moral da noite: Garanto que todo mundo saiu feliz de lá. Quem não esperava nada foi surpreendido, quem esperava o esperado foi surpreendido, quem esperava piadas ruins não foi surpreendido. Quando que é o próximo?

Eduardo Kapp