Nota: 7,8
Fernanda Rodrigues
Sabe aquela expressão
“melhor de três”? Serve para Froot, que é o terceiro álbum da Marina, mas o
produto final do que se pode chamar de um ~materialismo dialético~ entre os
dois primeiros, The Family Jewels e Electra Heart. No primeiro ela não tinha uma identidade bem
formada ainda, perdida em um mainstream anônimo do mundo pop, provavelmente
pouco certa do que ela mesma queria. É claro que, como qualquer experiência,
fez com que ela (tentasse) inovar para o segundo.
Electra Heart, como o
próprio nome diz, teve como personagem principal uma garota que dava choque nas
pessoas que chegavam ao redor porque ela própria já havia levado muito choque
de gente que só queria brincar com seu “pobre coração”. Bem, foi um estereótipo
ótimo para vender, principalmente se focarmos no público adolescente, em que
algumas meninas decidem se tornar bad
girl, como sugerido na trilha "How To Be a Heartbreaker", que apresentou regras essenciais para ser uma verdadeira
desgraçada que só brinca com os caras que aparecem na sua vida, porque em algum
momento de seus relacionamentos passados, já pagaram papel de trouxa™.
Basicamente, tratava-se de
um alter ego que não sabia muito bem lidar com seus próprios sentimentos, ou
melhor, com seus sofrimentos e descontava nos outros suas desilusões amorosas.
Aí é que vem Froot na carreira de Marina, como quando aquela adolescente
overdramatic que finalmente entra na
vida adulta e consegue agir com melhor racionalidade diante dos problemas. Em
“Happy”, faixa escolhida para abrir o álbum, ela já deixa claro que descobriu o
amor-próprio como o melhor remédio para a dor de coração. E é uma evolução não
só para o lado sentimental, mas a estrutura do álbum em si é mais bem feita que
a dos anteriores.
As batidas pops estão bem
mais organizadas, ao contrário do eletrizante e irônico Electra Heart. E é bom
lembrar que a produção do álbum contou apenas com a cantora e a ajuda de David
Kosten, demonstrando abertamente que a sua intenção foi de fazer um álbum que
tivesse o máximo de Marina Diamondis quanto fosse possível. Claro que é sempre
delicado falar de amor e sentimentos sem deixar a música entornar em um caldo
meloso que a gente acaba pulando para escutar a próxima faixa, mas ela até que
se deu bem quanto a isso. Apesar de comportar versos como “I found what I’d been looking for in myself/ Found
a life worth living for someone else/ Never thought that I could be happy,
happy”, por exemplo, "Happy" tem uma das melodias – se não for a melhor – que
mais se destaca dentro do álbum, com um piano nostálgico e sombrio por detrás,
acompanhando a autorrealização que Marina canta e arrasta dentro de outras
faixas. Por outro lado, alguns resquícios do álbum anterior podem ser sentidos
em "Blue" e "Can’t Pin Me Down", nas quais
ela traz de volta o seu egoísmo, mas agora no sentido de valorizar mais a si
mesma do que no intuito de ferir o cara com quem ela está saindo: “I’m never
gonna give you anything that you expect/ You think I’m like the others/ Boy,
you need to get your eyes checked”.
Ademais,
apesar de ter vazado na internet antes do lançamento oficial, que só seria em
julho, Froot não desapontou os fãs da cantora – ok, talvez tenha, no mínimo,
surpreendido, já que provavelmente a maioria esperava algo mais parecido com o
segundo álbum, apesar de "Froot" (a música) já ter sido lançado como single em
novembro e ter dado uma ideia de quais eram as intenções da cantora. Não foi lá
grandes avanços no mundo pop, tudo bem, mas, em questão de transformação e
evolução pessoal, esse terceiro álbum nos mostrou quem é, de verdade, Marina
Diamondis – agora sem ser confundida com outras cantoras ou com algum
estereótipo de menina má – e que ela já tem (ou ao menos está no caminho de construir)
sua própria marca. É sempre bom ver um artista superar as expectativas do próprio público.
Onde ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=dQZxF5T_oXY
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