Matheus Donay
Geralmente quando paro pra ouvir
um álbum do início ao fim passam muitos pensamentos pela cabeça. Obviamente, a
maioria deles pré-moldados, ainda não lapidados e muitas vezes precipitados. Tive uma
sensação boa-estranha ao ouvir o "1", disco do Pedro Pastoriz. Fui com uma
boa expectativa, impulsionado pela banda que ele faz parte, o Mustache & Os
Apaches.
Gosto das culturas regionais e
como elas estampam bem ‘seu território’ nos acordes, letras e na pura essência.
Por outro lado, acho muito interessante quando alguém que não é do habitat abraça
um gênero longínquo. Acho que o brasileiro Pastoriz tirou de letra interpretar
o folk raiz americano, um pouco diferente daquele folk mais pop do
Mustache. Aliás, muita gente brasileira conhece o folk, mas desconheço artistas
do ramo (se alguém souber, por favor, me indique).
Para os apreciadores do futebol:
sabe quando tu começa a lembrar/imaginar os velhos cabeludos de chuteira preta
e bigode? Pois é. Esse é o feeling do 1. Gravado em 1 TAKE em FUCKING 40
MINUTOS, direto no vinil. Romantismo puro. Reza a lenda que o cara TIROU O
CABAÇO do Brasil nesse tipo de gravação. A grosso modo, já imaginou deixar teu
celular captando som, pegar um violão e uma gaita e gravar um disco? Mahomenos
isso que rolou.
Ainda essa semana conversava com
o outro rapaz que escreve neste blog sobre alguns folks dos anos 40s, os
métodos gravação e a vibe toda do cenário. Curiosamente na mesma semana sai
esse álbum, com características muito marcadas da época. Desde o simplório instrumental,
o jeito de cantar e a qualidade do som. Nesse vídeo dá pra sacar o quão roots é
a coisa, https://vimeo.com/125068399.
Um disco que sinceramente poderia se chamar “Ao vivo no estúdio”.
A gravação crua desse tipo nos
permite apreciar as minúcias que só a simplicidade nos oferece, longe de
qualquer trabalho de mixagem, efeitos, pedais e toda essa parafernalha. Tipo
quando o cara resolve aumentar a voz e vazam uns ecos ambientes. Rola isso
bastante em Figurantes do Showbizz. Ou então em Sheik, onde rolam aqueles
barulhos de quem bate no microfone ou coisa do tipo.
O cara falou que vai sair tocar
na rua, cafés, brechós e onde seja que role um espacinho. A começar pela
Europa. Parece que rola toda uma estética em volta, com cenário e tals. As
letras, que foram escritas nos States, também entram nessa. Uma roupagem
clássica do folk.
Sinceridade é o ponto forte do
trabalho. As letras, as palhetadas, o take NUDE. Raras as vezes em que senti
proximidade com o artista, mesmo que seja um sentimento abstrato. Se a intenção
era tocar o ouvinte por este viés, acho que o cara teve êxito.
Onde ouvir: https://soundcloud.com/pedropastoriz/sets/pedro-pastoriz-1