18 janeiro, 2016

Grizzly Bear - Veckatimest (2009)

Nota: 10







Eduardo Kapp




O Pop Barroco é aquele sonho estranho que persegue teu inconsciente, nunca te deixa lembrar do que aconteceu por inteiro, fica conversando com o maldito fantasma (ou vulto, não é algo realmente relevante) que a gente sempre acaba vendo de canto de olho quando tá sozinho no quarto ali pelas duas da manhã. Tu fica num estado de puro vazio e ao mesmo tempo debruçado por cima de todos os detalhes. Todos os detalhes.

Eu precisava dizer isso. Pra ser sincero, mesmo que enquanto eu escreva isso ainda tenha bastante sol e bastante dia, sei que é uma questão de tempo até que essa coisa toda volte a me assombrar. É terrível. Não, sério, me escuta, guarda esse pensamento todo que tu acabou de ter! Vou tentar ser mais direto. O ponto é que, como que eu vou ignorar todos esses pianos elétricos distoantes e todos esses vocais em coro tão bem colocados e raciocinados (logo quando até a Victoria Legrand participa dessa brincadeira toda)?

Mesmo em 2009, todo mundo que já tinha ouvido pelo menos alguns minutos de Grizzly Bear sabia da busca quase infecciosa pela perfeição, da variedade de instrumentos, dos sons que começam como meros ruídos de fundo e crescem até bizarras e deliciosamente enormes experiências? Quero dizer que, fora o álbum de estréia, eles já tinham lançado alguns EPs e o próprio (conhecido) Yellow House. Todos muito bons e interessantes (e tudo).

Eu vou falar de uma vez. Os cretinos conseguiram fazer seu próprio SMiLE. Um disco intrinsecamente pensado, completamente envolvido com si mesmo e ao mesmo tempo explodindo em conteúdo (muitíssimo relevante) pro mundo exterior. Não tem como não ficar hipnotizado pela quantidade de esforço (aparentemente) colocada em cada segundo de música aqui ouvida. Na abertura mesmo, "Southern Point" não tem o menor medo de mostrar que não estamos prontos pro que virá depois.

E aí tu se pergunta: "tanta meticulosidade não acaba sem vida?" E eu digo que não. Definitivamente não. Na verdade, poucas vezes tive tanta certeza de alguma coisa (sei que ao dizer isso acabei de assinar minha sentença de gente vindo me perturbar). É aquele caso em que, mesmo que o disco seja um bocado orientado pra cada música individualmente, ainda existe uma coesão absurda. Nenhuma faixa a mais nem a menos. Aí que chega a parte mais hipnótica do Pop Barroco: é Pop. Sim, um disco como esse, longe de ser parecido com o que domina o mainstream (ainda mais em 2009), tem pelo menos dois "hits". Não dá pra deixar de falar da "Two Weeks", que é praticamente (na ideia que deixei anteriormente) a "Good Vibrations" do álbum. Uma sinfonia de bolso. Os synths vibrando no fundo, imersos nos vocais! Ah, que maravilha. Bom, daí em diante tem um período de preparação e recuperação. Não de uma forma pretensiosa, mas incrivelmente lógica.

Acho que, de um jeito ou de outro, a melhor coisa mesmo desse álbum, é que a perfeição toda não é forçada. Dá pra sentir o lado da originalidade e ambição estando muito mais à frente do perfeccionismo, sendo um a ferramenta do outro e não o objetivo. É claro que eu não tenho como te garantir isso nem nada, mas é aquele tipo de coisa que tu vai ouvindo e a cada vez parece ainda melhor que a anterior. É realmente difícil de compreender facilmente, acho que quando algo é pretensioso não tem como ser muito fundo nem nada, aí os menores detalhes acabam escapando na primeira oportunidade.

Se você gosta de música como arte, se você gosta de arte como música ou até mesmo se você gosta de ficar confuso e ao mesmo tempo iluminado, esse um dos álbuns definitivos.

Onde ouvir:
https://www.youtube.com/watch?v=F5mGYiLSYiI&list=PL_JYBJZdlL5JKnuJLnjT70oLOkit_i56c